Autoempatia como Elemento Necessário para Regulação das Emoções

 em Artigos

Publicação in COSTA, Jane M. P; ROSA, Ronel A. Autoempatia Como Elemento Necessário Para Regulação Das Emoções REBAT – Revista Brasileira de Análise Transacional, www.unat.org.br, Ano 2021.

Jane Maria Pancinha Costa
Ronel Alberti da Rosa

RESUMO

A necessidade de importarmo-nos uns com os outros, identificando-nos com o que temos em similaridade, seres vivos, seres humanos neste planeta, vem se tornando atualmente um foco comum em estudos e reflexões entre investigadores da neurociência, do comportamento, das emoções e relacionamentos sociais, para citar alguns. Na área da promoção de saúde e da psicoterapia, não é diferente. Em especial nas duas últimas décadas, a ampliação do conhecimento sobre cérebro e sistema nervoso em pesquisas na neurociência tem proporcionado relacionar estas áreas de compreensão do individuo e suas relações, contribuindo para reflexões, entendimento e propostas de ação e liberação possível do sofrimento humano. Assim, o propósito deste artigo de natureza qualitativa, foi refletir, a partir de Revisão Narrativa de Literatura recente, sobre a possibilidade de compreender empatia como originada de emoção primária ou natural. Como conclusão, torna-se evidente a importância da regulação das emoções contemplando a autoempatia para que sua função de regulação de nossos instintos com o propósito de sobrevivência, bem estar e evolução, possa acontecer, no campo individual e no social.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A regulação da emoção é condição para a vivência e manifestação da empatia em seus tres aspectos, cognitivo, afetivo e preocupação empática. Trabalhar ativamente com a emoção tem sido empiricamente demonstrado como sendo de importância central na psicoterapia. Existem variados modelos terapêuticos de diferentes orientações teóricas incorporando princípios e técnicas para trabalhar com as emoções desreguladas. A conexão com mecanismos proprioceptivos e interoceptivos é uma área recente de pesquisa, complexa e desafiadora. A evidência científica é lenta e parcialmente emergente, ainda sem consenso sobre a interpretação das primeiras descobertas. Concordando com Grecucci (2020), uma questão que se coloca é sobre estes caminhos: regulação cognitiva(top-down) ou experiencial(botton-up) das emoções.

Para que o amor, como o espaço de condutas que aceitam o outro como legítimo outro na convivência, possa se fazer presente na dinâmica relacional, parece ser necessário que se faça presente na dinâmica estrutural interna (autopoiese). Aqui, um olhar fundamental para a autoempatia. Vale ressaltar que, como parte do processo empático, conforme já apresentado, os indivíduos usam suas próprias emoções e experiências, de maneira mais ou menos consciente (alta ou baixa clareza emocional) para compreensão dos estados mentais e emocionais dos outros. Sob baixa clareza emocional, a distinção e o limite entre o que é do campo interno do indivíduo e o que é do campo interno do outro, tornam-se difusos.

O processamento interno, com pensamentos autogerados, com memória autobiográfica, autoprojeção e atenção flutuante e sua relação com o sistema padrão, constitui demonstração da importância de diferenciar o eu do outro através de um caminho que passe pela interocepção, validando, através do panorama interno corporal, a natureza do indivíduo em seu propósito de sobrevivência, bem estar e evolução. Parece ser insuficiente a regulação cognitiva das emoções via top-down, seja através de intervenções biomédicas ou psicossociais. Um nível de validação da natureza e força das emoções via botton-up parece constituir força importante neste processo, validada pelas pesquisas apresentadas sobre sistema padrão e outros achados da neurociência.

A partir das referências abordadas, torna-se evidente a importância da regulação das emoções contemplando a autoempatia para que sua função de regulação de nossos instintos com o propósito de sobrevivência, bem estar e evolução, possa acontecer, no campo individual e no social.

 

BIBLIOGRAFIA

Allen, J. Biology and Transactional Analysis II: A status report on neurodevelopment. Transactional Analysis Journal, Oakland, v. 30, n. 4, p.260-269, Oct. 2000.

Costa JMP. About Sensations , Emotions and Feelings : A Contribution to the Theoretical Basis ofTransactional Analysis. 2018;9(1):43-51.

Damásio, A. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São Paulo: Companhia Das Letras, 2004.

Damásio A. A Estranha Ordem Das Coisas: As Origens Biológicas Dos Sentimentos e Da Cultura. Companhia das letras.; 2018.

Ferreira, Cecconello e Machado. Neurônios espelho como possível base neurológica ds habilidades sociais. In: Psicologia em Revista,v.23, n.1, p.147-159, jan.2017

Goleman, D. Foco: A atenção e seu papel fundamental para o sucesso.Objetiva, ed. 2014.

Grecucci, A; Frederickson,J;Job, R.Editorial: Advances in Emotion Regulation:from neuroscience to psychotherapy. Front Psychol., 8 (985); 2017.

Grecucci A, Messina I, Amodeo L, et al. A dual route model for regulating emotions: Comparing models, techniques and biological mechanisms. Front Psychol. 2020;11:1-13. doi:10.3389/fpsyg.2020.

Gross J J. The emerging field of emotion regulation: An integrative review. In:Review of General psychology, v..2, n.3, p.271-299, 1998

LeDoux J. O Cérebro Emocional: Os Misteriosos Alicerces Da Vida Emocional.Objetiva, ed.; 2001.

Maturana H, Varela FJ. A Árvore Do Conhecimento: As Bases Biológicas Da Compreensão Humana. 5a ed. Palas Athena, ed. 2005.

Messina I, Bianco F, Cusinato M, Calvo V, Sambin M. Abnormal default system functioning in depression: Implications for emotion regulation. Front Psychol. 7(JUN). doi:10.3389/fpsyg.2016.00858. 2016

Messina I, Sambin M. Berne’s Theory of Cathexis and Its Links to Modern Neuroscience. Transactional Analysis Journal. 45(1):48-58. doi:10.1177/0362153714566596 .2015

Naor N, Rohr C, Schaare LH, Limbachia C, Shamay-Tsoory S, Okon-Singer H. The neural networks underlying reappraisal of empathy for pain. Soc Cogn Affect

Neurosci. Published online doi:10.1093/scan/nsaa094. July 23, 2020.

Panksepp, J. What is Basic About basic Emotions? Lasting Lessons From Affective Neuroscience. Emotion Review v 3, n. 4. 1–10 ISSN 1754-0739 DOI: 10.1177/1754073911410741 October 2011

Porges, S.W. The Polivagal Theory: Neurophysiological Foundations of Emotions, Attachment, Comunication and Self-regulation. Norton. New York.2011

Preckel K, Kanske P, Singer T. On the interaction of social affect and cognition: empathy, compassion and theory of mind. Curr Opin Behav Sci.;19:1-6. doi:10.1016/j.cobeha.2017.07.01. 2018

Raichle, M.E. et al. A Default Mode of Brain Function. Proc. Natl. Acad, Sci.v.98.
n.2. Jan 2001

Rizzolatti, G. & Sinigaglia, C. Mirror in the brain: how our minds share actions
and Emotions. Oxford: Oxford.2008.

Shalev I. Motivated Cue-Integration and Emotion Regulation: Awareness of the Association Between Interoceptive and Exteroceptive Embodied Cues and Personal Need Creates an Emotion Goal. Front Psychol. 2020;11. doi:10.3389/fpsyg01630. 2020.

Shustov,D; Tuchina,O.“Theodora” Way Station: How The Psychological Concept of Life Script Mirrors Neurocognitive Memory of the Future, Transactional Analysis Journal, 49:4, 292-307, DOI: 10.1080/03621537.2019.1650230. 2019 a ed.

Siegel DJ. Pocket Guide to Interpersonal Neurobiology: An Integrative Handbook of the Mind. 1 Norton & Company I, ed.; 2012.

Van den Heuvel, M.P.;Hulshoff Pol, H.E.Exploring The Brain Network: A review on resting-state fMRI functional connectivity. Neuropsychopharmacology, 20(519-534). 2010

Wang, P. et al.Inversion of a large scale circuit model reveals a cortical hierarchy in the dynamic resting human brain. Sci. Adv.5 (1). eaat 7854. 2019

Zak P. A Molécula Da Moralidade. Elsevier ed.; 2012.

Deixe um comentário

um × 3 =

Digite sua pesquisa e pressione enter